À comunidade do Colégio Equipe,
Ao longo de sua história, o Colégio Equipe tem como um de seus principais valores o reconhecimento da necessidade do trabalho coletivo dos educadores como condição para que as crianças e jovens estudantes possam realizar e desenvolver as aprendizagens previstas no seu projeto político-pedagógico. De forma coerente com essa prática, o grupo de educadores responsáveis pela instituição é remunerado exclusivamente pelo trabalho exercido no cotidiano escolar, não havendo, portanto, a remuneração de um grupo ou uma entidade mantenedora que não atue efetivamente junto aos demais educadores da escola.
Nesse contexto, temos participado de discussões com os trabalhadores da escola sobre o dissídio e a convenção coletiva em disputa entre os sindicatos das escolas particulares e dos professores em São Paulo. Nesses encontros, manifestamos a nossa posição e o nosso compromisso com a garantia dos direitos adquiridos historicamente e consolidados nas últimas convenções, que asseguram condições de trabalho aos professores.
Dessa forma, a carta aberta elaborada por educadores do Colégio Equipe, que segue anexa, expressa também a nossa participação e os nossos posicionamentos.
Direção do Colégio Equipe
Por uma educação de qualidade
Carta dos educadores do Colégio Equipe
Quando discutimos seriamente um problema no Brasil, não é incomum ouvir alguma variação da frase “sem educação não há solução”. Podemos estar falando de combate à corrupção, competitividade econômica, democracia, sustentabilidade ecológica… nada disso é de fato possível sem uma prática educacional que assegure os direitos à aprendizagem das crianças e jovens, com igualdade e equidade. Entretanto, toda a importância que damos à educação quase não se traduz, na realidade brasileira, em políticas concretas e efetivas. Todos os países que gozam hoje de uma educação de qualidade fizeram grandes investimentos de longo prazo, tanto em termos de recursos quanto na elaboração de políticas específicas.
As condições de trabalho dos professores no Brasil de hoje são insuficientes para uma educação de qualidade. Diversos estudos mostram que os jovens não querem ser professores, seja pelo salário, pelas condições de trabalho, pela falta de prestígio da profissão, pela extensa formação requerida. E isso já acontece nas atuais condições de trabalho. Não há espaço para melhorar, ou mesmo manter, a qualidade do que fazemos, diminuindo custos e precarizando o trabalho docente. Um dos fatores que mais contribuem para a qualidade de uma escola é a possibilidade do trabalho coletivo com uma equipe estável de professores.
Tendo em vista esse cenário, nós, educadores do Colégio Equipe, queremos manifestar publicamente nossa discordância em relação às propostas do SIEEESP (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo) para o dissídio e convenção coletiva que, se efetivadas, excluem ou reduzem direitos dos professores, historicamente consolidados, agravando as condições profissionais de realização do seu trabalho.
A exclusão dos parâmetros de hora/aula, a limitação das bolsas de estudo para filhos de professores, as mudanças na garantia da semestralidade, a redução do período de recesso escolar, o contrato intermitente de educadores. Nenhuma dessas mudanças tem como objetivo melhorar a qualidade da educação. Seu efeito será o inverso. A fragilidade do vínculo de trabalho entre professor e escola significa a fragilidade do vínculo educacional entre alunos e professores.
Temos a satisfação de informar à nossa comunidade que o Equipe segue tomando como referência as cláusulas da convenção de 2016-2018 e não implementará as mudanças propostas pelo SIEEESP. O compromisso da escola é com a garantia das condições de trabalho necessárias para o desenvolvimento do nosso projeto político-pedagógico construído e compartilhado com as famílias e com a comunidade ao longo dos seus 50 anos de história.
Embora possamos comemorar esta condição singular do nosso colégio não estamos preocupados apenas com as nossas condições de trabalho, mas sim com o ideal de uma educação de qualidade para todos os brasileiros e brasileiras. As mobilizações de professoras e professores das redes pública e privada mais do que atos de categorias profissionais específicas, representam também uma genuína defesa da educação como condição para a consolidação de uma sociedade democrática e pluralista.
A participação da sociedade civil como um todo é fundamental na consolidação do movimento de defesa da qualidade educacional e de condições dignas para o trabalho de educadoras e educadores. Conclamamos aqui todas as pessoas que acreditam na necessidade de assegurar o direito à efetiva aprendizagem e ao desenvolvimento, com igualdade e equidade, das crianças e jovens, como condição para a redução das desigualdades sociais e do exercício da democracia a participar conosco desse importante momento de reivindicação de uma escola de qualidade para todos e todas.
Educadores do Colégio Equipe