Reflexão como salvaguarda
Michel de Montaigne é um dos escritores seminais do século XVI, ao lado de Cervantes, Shakespeare, Erasmo, Rabelais e outros autores, mas, diferente destes últimos, escreveu apenas um livro, os Ensaios, publicado em 1580. Também é único destes que “inventa” um gênero literário novo, o ensaio, dedicado à elaboração da experiência em um sentido muito amplo, desde a pedra no rim até o destino da alma.
O ensaio de Montaigne é um exercício crítico de formulação de um juízo sobre determinado tema, sempre almejando a virtude moral, isto é, um comportamento social e individual justo, honrado e compensador. O ensaio não admite uma conclusão científica, apenas argumentativa, e é construído sobre três fontes do conhecimento: as Autoridades, o senso comum e a experiência.
A escrita de Montaigne é eminentemente pessoal, isto é, ensaia o conhecimento de si mesmo na condição mundana do presente, seja a riqueza e a pobreza, a saúde e a enfermidade, a tranquilidade e o desespero, a juventude e a velhice, a alegria e a tristeza, a solidão e a companhia, a vida e a morte.
Os alunos e as alunas da segunda série do Ensino Médio do Colégio Equipe foram convidados a escrever um ensaio individual baseado em nossa leitura do ensaio “O bem e o mal só o são, as mais das vezes, pela ideia que deles temos”, de Montaigne. A concepção e redação do ensaio coincidiu com o início do período de isolamento social e essa circunstância promoveu a aparição de um conjunto de textos que são um testemunho consistente da condição adolescente na nossa comunidade escolar no contexto de crise sanitária, social, política e moral em que vivemos atualmente.
Invertendo uma formulação célebre de Montaigne – “filosofar é aprender a morrer” –, esses ensaios representaram, à sua maneira, um modo de, através da reflexão, reaprender a viver.
Iuri Pereira
Professor de Português