Aqui no Equipe temos uma atividade chamada “follow up”, em que convidamos alunos formados há cinco e a há dez anos para nos contar o que estão fazendo e como avaliam a escola depois de um tempo afastados, a partir das demandas de estudo e profissionais que estão vivenciando.
É sempre uma conversa muito emocionante. Mas, como marca de uma educação crítica, ouvimos elogios e também críticas ao nosso trabalho, que se tornam parâmetros importantes para aprimorarmos nossa prática.
No início deste ano recebemos um e-mail muito carinhoso de um ex-aluno que, mesmo sem ser convocado, fez espontaneamente um “follow up”, contando da sua trajetória após a escola e como o que aprendeu conosco sempre foi referência para sua atuação profissional e comprometida com um mundo melhor. Vejam o texto dele:
“Queridos educadores do Colégio Equipe,
Escrevo esta mensagem para compartilhar com vocês uma alegria de ex-equipano. A partir de junho deste ano serei aluno da Harvard Kennedy School, no mestrado em Políticas Públicas voltado para profissionais em meio de carreira (um eufemismo elegante para quem, na verdade, quer dar uma parada e seguir novos rumos depois do curso).
Quando recebi a carta de aceitação decidi compartilhar esse momento de alegria com todos os que me ajudaram, e não poderia deixar de comemorar com vocês. Em muitos momentos da minha vida (profissional e pessoal) tive a sensação de que a formação que recebi no Equipe me ajudou muito, mas poucas vezes senti que ela foi tão decisiva.
Ao contrário do Brasil, onde utilizamos essencialmente testes padronizados, o processo de seleção em Harvard é muito mais holístico. Além do desempenho acadêmico (que conta, e muito) eles levam em conta as experiências prévias e os planos futuros.
Tive uma trajetória legal depois que saí do Colégio. O querido professor Maurício (um dos fundadores da escola) me ajudou a arrumar uma bolsa num cursinho. Na época, minha mãe ainda pagava o Equipe e não tinha como pagar o preço integral do cursinho. Ralei e passei no Largo São Francisco (Direito-USP). De lá, muitas portas se abriram. Vivi a faculdade intensamente. Fiz carreira acadêmica (sou doutor em direito econômico desde 2012), joguei bola e fiz movimento estudantil (fui do XI de Agosto duas vezes, o que não é fácil). Decidi também seguir carreira pública e trabalhei na Prefeitura de São Paulo, na Assembleia Legislativa e no Senado Federal. Entre 2008 e 2015 trabalhei no governo e em Brasília, tive uma experiência incrível, aprendi muito sobre o Brasil e sobre administração pública, assunto que virou minha paixão ao longo dos anos.
No final de 2015 deixei o governo para vir com minha esposa para os EUA. Ela é diplomata e trabalha na missão junto à ONU. Aproveitei para cuidar mais das crianças (temos dois) e para fazer meu pós-doc na Columbia Law School. No final do ano passado apliquei para Harvard e passei!
Como planos futuros, apresentei o desejo de trabalhar em nível internacional com desenvolvimento sustentável, combate à desigualdade e participação social. Esses foram os assuntos aos quais mais me dediquei no Governo Federal e gostaria muito de ter uma experiência sobre eles em organismos multilaterais ou ONGs internacionais. Porém, acho que o fator decisivo para eles foi a defesa que fiz sobre a necessidade de o gestor público ser formado numa combinação virtuosa entre compromisso social, método e valores democráticos. Foi engraçado ler o site da escola antes de escrever pra vocês e ver que o que escrevi em minha aplicação é muito semelhante ao projeto que o Equipe afirma defender.
Site do equipe: “Desde 1968 educando crianças e jovens, estamos processualmente fundamentando um currículo direcionado à formação de um ser humano autônomo, criativo, com valores próprios, com uma sólida base de competências e capaz de participar ativamente em uma sociedade democrática e pluralista”.
Minha aplicação: “I think the new leadership in politics and public administration should be built from a virtuous combination between ethical values, social commitment, and evidence-based methodology. (…) I believe that these skills are essential to address demagogic arguments and to find ways to improve democracy and social justice in this “post-truth” world, where we are watching a huge wave of intolerance, the absence of political moderation and confidence in the political institutions.”
Infelizmente fui perdendo o contato com o Equipe ao longo dos anos. Vivo fora de São Paulo desde 2006 e isso dificulta muito uma relação mais cotidiana. Sigo o site, o Facebook e vou sabendo de notícias por amigos da turma de 1996 que são próximos do Colégio. Mas de longe é sempre mais difícil. De qualquer forma, gostaria que vocês recebessem essa mensagem carinhosa. Devo muito ao Equipe e ao trabalho dedicado de vocês!
Além disso, eu também gostaria de ajudar de alguma forma. Não tenho a menor ideia de como. Mas quero deixá-los totalmente à vontade para pensar nisso. Se vocês identificarem algo que eu possa fazer, não hesitem em entrar em contato, farei com o maior prazer. Aliás, há muita gente que conheço dos meus tempos de colégio fazendo coisas incríveis e que sentem o mesmo que eu. Com certeza, há outras centenas de trajetórias interessantes por aí.
Um abraço afetuoso a todos,
Diogo de Sant’ Ana, turma de 1996.
Para os equipanos, Dioguinho!”