Em sala de aula no Equipe é proibido o uso de dispositivos móveis. A orientação é para que permaneçam desligados e dentro das mochilas. Por quê? Para permitir que os alunos mantenham a atenção. Ao preparar o planejamento e cada uma das suas aulas, os professores definem objetivos educacionais e escolhem estratégias de ensino-aprendizagem que demandam que o aluno não apenas compreenda um conceito ou retenha informações, mas exigem que ele acompanhe uma linha de raciocínio e pensamento em que as dúvidas, as perguntas e as colocações da turma são incorporadas à aula. Por isso a atenção permanente dos alunos é fundamental. Uma aula é sempre única, embora conteúdos e conceitos trabalhados possam ser os mesmos.
Qualquer pessoa, adulto, criança ou jovem, que faça uso de um smartphone com acesso à internet e às redes sociais, sabe como isso pode ser dispersivo.. Quantas vezes pegamos o aparelho para enviar ou ler uma mensagem e acabamos fazendo diversas outras coisas e até nos esquecemos do nosso propósito inicial? E, diferente de uma aula, que geralmente tem um percurso, um fio condutor, a experiência de uso desses aparelhos é a de ir de um assunto a outro, uma foto a outra, aleatoriamente. Muitas informações são obtidas sobre os mais variados assuntos, mas, na maior parte das vezes, sem nenhuma conexão entre elas. A maneira de lidar com dispositivos móveis e com as informações que trazem é oposta a de uma aula.
Também por isso, na maior parte das vezes, seu uso é proibido durante as aulas. Só é permitido se justamente essa forma de funcionar venha a ser incorporada à aula como uma das estratégias do professor. No curso de Leituras, por exemplo, quando se está discutindo Notícias, a professora pede para os alunos acessarem pelos seus smartphones notícias relacionadas ao tema abordado em diferentes portais. Justamente o caráter diverso e aleatório é um dos aspectos que permitem problematizar não só sobre o tema, mas o próprio modo como as informações são obtidas. Os smartphones também são objeto de estudo e ferramenta de trabalho em alguns momentos do curso de Multimeios.
Os alunos respeitam essa regra? A grande maioria, sim. Se os aparelhos não ficam guardados dentro da mochila, pelo menos permanecem desligados e não chegam a atrapalhar as aulas. Então não temos problemas com eles na escola? Claro que temos! Mas o que percebemos é que essa regra é mais difícil de ser respeitada por alguns dos alunos do Ensino Médio e pelos alunos do Ensino Fundamental II (trazer celular para a escola só é permitido no Colégio Equipe a partir deste ciclo). Em geral é a partir desse momento que os adolescentes começam a ter e a usar esses equipamentos. Se atrapalharem as aulas, muitos professores recolhem os aparelhos e entregam para a Coordenação, que, ao final do período, conversa sobre o porquê deles terem sido recolhidos e retoma o sentido da regra. Claro que, se o fato se repetir, a família é informada e, muitas vezes, chamada para uma conversa.
Mas o que temos observado atualmente é que não é só na escola e durante as aulas que os smartphones e o acesso às redes sociais interferem no trabalho educacional. É também o que acontece fora da escola. Acontece com frequência colocações e discussões entre grupos de alunos por WhatsApp se tornarem problemas de relacionamento entre eles e, de alguma maneira, obrigam a escola a interferir para a solução desses conflitos. Além disso, muitos alunos, ao passarem por algum tipo de dificuldade no espaço escolar, em vez de procurar um adulto dentro da própria escola para ajudá-lo, comunicam-se diretamente com os pais, que estão distantes e não têm como resolver a questão, causando ansiedade mútua. Às vezes até somos surpreendidos por alunos que pedem para sair da aula para responder às mensagens dos pais! O que percebemos é que há uma indiferenciação entre o que é importante e o que é urgente.
Fatos como esses têm chamado a nossa atenção: as redes sociais muitas vezes geram ruídos e mal-entendidos na comunicação interpessoal. Há um exagero no seu uso tanto por parte dos jovens quanto por parte dos adultos. Se sugerimos um uso mais pontual, muitas pessoas manifestam que ficam inseguras, fato que aponta para nós que está se configurando ali uma relação de dependência. E, por entendermos que também é papel da escola problematizar escolhas dessa natureza, vamos oferecer neste semestre para os alunos do Ensino Médio um grupo de estudos sobre as relações com a internet e as redes sociais por meio dos seus dispositivos móveis. Ele será coordenado pelo professor de Filosofia e foi nomeado como “A esfinge: decifra-me ou devoro-te”. Mais do que proibir o uso, é preciso refletir sobre como esse uso está ocorrendo e qual espaço dentro das nossas vidas está ocupando.
Luciana Fevorini
Diretora Escolar