Empatia e solidariedade

O termo “empatia” é usado em educação como a capacidade de educandos e educadores se identificarem com o outro, sabendo se colocar no lugar do outro do ponto de vista tanto cognitivo como afetivo. Renato Janine Ribeiro, na roda de conversa sobre empatia na educação de crianças e jovens organizada pelo Instituto Alana e pela Ashoka, diz que o termo “empatia” significa “sentir e sofrer no lugar do outro; pathos é a palavra grega que significa paixão, relacionada ao sofrimento”.

Na Filosofia, continua Renato Janine Ribeiro, “pathos pode se opor a duas outras palavras: “ação”, em que somos ativos (na paixão somos passivos) e “razão” (na paixão somos irracionais)”. Portanto, empatia tem um sentido de passividade e irracionalidade. Ainda aponta que, na tradição filosófica, “quando se adota uma conduta baseada na racionalidade, é possível sermos mais donos do nosso próprio destino, diferentemente de quando agimos pela paixão, em que somos possuídos pelos sentimentos (dor ou alegria)”.

 

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Citando Rousseau, Renato Janine Ribeiro também diferencia doutrinação de educação. “A palavra ‘educação’ em latim significa justamente sair, ir (ducare) para fora (ex), ou seja, o educando sai de uma situação para ir para outra”. Afirma que, do seu ponto de vista, “a empatia não é natural, ela é formada, desenvolvida no processo educacional”.

 

Já o termo “solidariedade” significa “caráter, condição ou estado de solidário

1. compromisso pelo qual as pessoas se obrigam umas às outras e cada uma delas a todas 2. laço ou ligação mútua entre duas ou muitas coisas ou pessoas, dependentes umas das outras (…) 3. sentimento de simpatia, ternura ou piedade pelos pobres, pelos desprotegidos, pelos que sofrem, pelos injustiçados etc. 4. manifestações desse sentimento com o intuito de confortar, consolar, oferecer ajuda etc. (…) 5. cooperação ou assistência moral que se manifesta ou se testemunha a alguém, em quaisquer circunstâncias (boas ou más) (…)”.

Se buscarmos o termo “solidário” no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa vamos encontrar:

1. em que há responsabilidade recíproca ou interesse comum (…) 2. que depende um do outro; interdependente, recíproco 3. pronto a consolar, apoiar, defender ou acompanhar alguém em alguma contingência (…) 4. que sente do mesmo modo, partilha dos mesmos interesses, opiniões, sentimentos etc., concordando, dando apoio; irmanado (…).[1]

[1] Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007.

 

Como pode ser constatado, o termo “solidariedade” tem um significado muito próximo ao de “empatia”, pois também está relacionado a compartilhar o sofrimento do outro. Entretanto, a solidariedade tem um componente para além do sentir, que é o da ação. Não se restringe apenas a sofrer junto, mas conforta, propõe ajuda

Justamente por isso é que no Colégio Equipe usamos o termo “solidariedade” e não “empatia” como um dos valores que sustentam a nossa prática na direção de uma educação transformadora. Pretendemos que nossos alunos sejam capazes de se colocar no lugar do outro, principalmente do outro que sofre, ou seja, das pessoas menos favorecidas da nossa sociedade, mas também que sejam capazes de agir, de tomar atitudes que possam aliviar, confortar e, por que não, até mesmo eliminar o sofrimento do outro. Que sejam capazes, portanto, de se indignar com as injustiças e as desigualdades sociais e de agir para tornar nossa sociedade menos desigual, mais justa e humana.

 

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Mas como ensinar solidariedade? Obviamente, não é incluindo-a como conteúdo a ser ensinado em algumas das disciplinas curriculares. A escola deve, em sua concepção de ensino e em suas escolhas metodológicas, criar condições para que os alunos desenvolvam atitudes solidárias. E como é um conceito relacionado à ação e não apenas ao sentimento e à cognição, a escola não só deve propor atividades que possam vir a colaborar para o desenvolvimento dessa postura como também deve incentivar que os próprios alunos criem e realizem ações nessa direção.

Há inúmeras situações didáticas no Equipe que visam desenvolver a solidariedade. Só para citar uma delas: o trabalho de monitoria entre ciclos e séries. Nele, alunos mais velhos acompanham o estudo dos mais novos ajudando-os não só no aprendizado dos conteúdos, como também a superar eventuais dificuldades. Como organizamos esse trabalho? Em primeiro lugar, não escolhemos os monitores – os alunos que querem participar dessa atividade se inscrevem. Segundo, os alunos interessados fazem uma formação em que discutem entre si e com educadores o papel de um monitor e também reveem os conteúdos das situações didáticas que vivenciarão. Também recebem informações pedagógicas sobre os alunos que vão orientar.

 

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Depois atuam com eles tanto em sala de aula como em trabalhos de campo (atividade em que os alunos vão colher dados para refletir sobre uma questão de estudo). E uma última etapa, e não menos importante, é discutir e compartilhar com os educadores sua opinião sobre o trabalho do seu grupo de alunos e a sua própria atuação. Tanto os alunos monitores como os monitorados avaliam muito positivamente essa experiência.

Outros exemplos poderiam ser descritos. Propomos trabalhos em grupos; há atividades de monitoria também entre colegas da mesma classe; a cada final de bimestre ou trimestre os alunos fazem uma autoavaliação do seu processo de aprendizagem, assim como avaliam as propostas didáticas da escola e de seus educadores, discutindo os diferentes pontos de vista sobre elas; fazem trabalhos de campo em realidades sociais e culturais diversas da que estão inseridos; são incentivados a propor atividades na escola por meio do grêmio estudantil ou do conselho de representantes de alunos; assim como oferecemos a possibilidade de atuarem como mediadores de leitura, de brincadeiras e de arte com crianças e jovens de outras realidades sociais numa parceria com o Instituto Equipe.

Entretanto, cabe destacar que para uma educação que forme pessoas solidárias é fundamental que a escola e seus educadores estejam predispostos a aprender com os educandos Não aprender os conteúdos específicos do saber sistematizado pela humanidade que devem ensinar, mas aprender como ensinar, aprender que esses saberes devem ser ressignificados pelas novas gerações. Só com novos sentidos é que se pode chegar ao novo e propiciar mudanças, sempre na direção de uma sociedade mais justa e humana.

 

Luciana Fevorini
Diretora Escolar do Colégio Equipe

 

Este texto faz parte da publicação “A importância da empatia na educação” realizada pela Fundação Alana e Ashoka. Todos os textos podem ser acessados através desse link.