Bullying: é possível evitar? Como?

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A escola tem se tornado o principal ambiente de interação social das nossas crianças e jovens. Num outro contexto urbano e social era possível a interação e a convivência em espaços não formais como a rua e o bairro. Hoje, o que vivenciamos numa cidade como São Paulo são famílias cujos adultos precisam trabalhar em tempo integral e contam com as instituições educacionais (escola e outras instituições de ensino) para serem parceiros na tarefa de educar seus filhos. Portanto, a escola oferecer um bom ambiente de convivência para seus alunos passou a ser muito importante, pois o desenvolvimento da sociabilidade de crianças e jovens se dará principalmente nela.

Como oferecer um bom ambiente de convivência? Além de se ocupar dos espaços formais de ensino, a escola também tem que se ocupar com os espaços em que os alunos convivem entre si de uma maneira mais autônoma como o recreio. Quando vão jogar, do que vão brincar, sobre o que vão conversar, como e quando os alunos vão ficar juntos, quais as brincadeiras e jogos que serão oferecidos, como os educadores vão supervisionar e intervir nesses momentos. Oferecer atividades de interação entre os alunos no próprio currículo também ajuda a conhecerem melhor uns aos outros e permite que outras habilidades das crianças e jovens, não tão evidentes em sala de aula, sejam valorizadas.

Aqui no Colégio Equipe procuramos por estas ideias em prática. No Ensino Fundamental I, por exemplo, fizemos uma pesquisa com os alunos sobre quais as brincadeiras preferidas deles no parque. A partir daí os educadores também se preocuparam não só em manter essas brincadeiras e os brinquedos nesse espaço mas também em oferecer novas alternativas para ampliar o repertório das crianças. No Ensino Fundamental II, são os alunos que decidem quais dias e quais jogos vão ter na quadra. Se eventualmente um grupo de alunos se mostra insatisfeito com a organização definida, o fato é levado para um conselho de representantes de alunos que discute o caso e leva novas propostas para o grupo todo. E, no Ensino Médio, os alunos, por meio de grêmio, também propõem atividades de interação entre eles. Elas podem ocorrer tanto fora do horário de aulas, quanto no próprio horário. Quando é no próprio horário de aulas, é organizado junto com a coordenação da escola porque é necessário que os professores cedam suas aulas, reorganizando suas sequências didáticas. Este ano já tivemos no Ensino Médio um sarau, um debate sobre redução da maioridade penal e oficinas ministradas pelos próprios alunos como de estêncil e grafite.

 

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Mas infelizmente, mesmo nos ocupando em oferecer e cuidar desses espaços e momentos de interação entre os alunos, não conseguimos eliminar totalmente situações de bullying na escola. E quando tomamos conhecimento delas, procuramos fazer intervenções mais direcionadas ao grupo e às pessoas envolvidas e também a todo o grupo classe. A condução deste processo deve ser pensada com muito cuidado. Afinal, uma pessoa fragilizada diante de um grupo precisa ser fortalecida. Conforme a forma de atuação e intervenção dos adultos para protegê-la, isso pode fragilizá-la ainda mais. O ideal é aluno, família e escola conversarem sobre o problema e planejarem juntas o que será feito. Entretanto, conversas com o grupo de alunos que está intimidando uma única pessoa ou um grupo de pessoas são imprescindíveis e não podem deixar de acontecer. A escola deve se posicionar claramente contrária a este tipo de atitude e, se avaliar pertinente, deve punir posturas como estas para inibi-las.

Eventualmente um aluno sofre uma situação como esta, conta para a família e não conta para a escola justamente com medo de que o problema se agrave e não se resolva. É fundamental que a família não só comunique a escola, mas reflita sobre a situação de forma mais ampla, considerando aspectos psicológicos, sociais e valores pessoais e familiares envolvidos. E a partir daí, pensar e planejar as intervenções. Uma questão complexa como esta não se soluciona com uma única ação. Por isso o envolvimento de todos os agentes na busca de superação do problema é fundamental.

 

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Luciana Fevorini
Diretora Escolar