Chegar no Colégio Equipe em meados dos anos 70 foi um bálsamo para a minha vida. Estudava até então em uma escola tradicional, rígida e alinhada totalmente com a ditadura reinante na época em nosso país.
Nessa escola eu vivia cercada de garotas alienadas, que não tinham a mínima ideia do que estava acontecendo no Brasil; e caso tivessem, provavelmente não estariam nem um pouco preocupadas. Eu tinha a recorrente sensação de não pertencimento, sentia-me deslocada, clandestina, ilegal. Algo muito pesado para uma menina de 15 anos.
Assim, iniciar o Ensino Médio em 1975 no Equipe foi a minha grande conquista para uma adolescência mais íntegra e feliz.
No Equipe fiz amigos (com alguns tenho contato até hoje), namorei, escrevi revista e poesia, participei de uma feira medieval, vi que química não era apenas uma tabela periódica, que física e matemática vão além das fórmulas, que história não é memorizar fatos e datas, e principalmente, que professores inteligentes, bem formados e interessados nos seus alunos é o que garante uma educação significativa e de qualidade.
No Equipe assisti a shows, participei de assembleias e passeatas. No Equipe fui a festas, dancei a noite inteira ao som de Caetano (“…deixa eu dançar pro meu corpo ficar odara…”), de Milton Nascimento (“…Maria, Maria…”), Gil (“…não adianta nem me abandonar…”)…
No Equipe pude finalmente deixar minha juba encaracolada ao léu, ir para a escola de sandália de pneu de borracha e calça jeans, falar gíria, gritar “abaixo a ditadura”, sem medo de ser feliz.
No Equipe voltei a gostar dos adultos, a admirá-los e a respeitá-los. No Equipe meus professores eram referências e não inimigos.
No Equipe aprendi a ser mais segura e a confiar nas coisas que penso, a valorizar o conhecimento, a gostar de ler, a ser curiosa.
Um dia desses estive no Equipe em um encontro de trabalho. Fiquei emocionada, tocada como se tivesse voltado ao prédio da Rua Martiniano de Carvalho. Apesar da escola ter mudado inúmeras vezes de lugar ao longo de sua existência e de 40 anos terem se passado, algo permanece: “ a deselegância discreta” do seu mobiliário (meio realismo socialista), o clima “desencanado” e amistoso dos seus funcionários, professores que circulam pelos corredores com brilho no olho, um bando de adolescentes “livres, leves e soltos” rindo e falando alto, carregando a certeza e a confiança de que irão deixar sua marca para a construção de um mundo melhor.
Maria Cristina Labate Mantovanini