Memórias Equipanas

Eu entrei no Equipe em 1993 e posso dizer, com certeza, que nunca mais o Equipe saiu de mim. Hoje, 25 anos depois, meus maiores amigos são os que estudaram comigo, meus irmãos estudaram no Equipe, meus filhos estudaram no Equipe e minha companheira trabalhou lá! Minhas maiores referências pedagógicas são aquelas que aprendi no Equipe, seja como aluno, seja como professor.

Entrei no Equipe na antiga 6ª série e tive o imenso privilégio de ter sido alunos de professores incríveis. Para não cometer injustiças e esquecimentos, cito só um: Mauricio. A forma como ele lidava com saberes e como encaminhava as discussões em sala, a forma como instigava a curiosidade e a pesquisa naquelas turmas de 6ª série, como encaminhava nossas auto-avaliações marcaram-me profundamente.

 

1

 O Equipe, para mim, é afeto, acolhimento, generosidade. O Equipe sempre abriu suas portas para outros saberes, para outras aprendizagens e para experimentações. Aprendi isso nos trabalhos em grupo, nos trabalhos de campo, nas discussões em sala de aula, dentro e fora da Escola. Essa generosidade se manteve por todo esse tempo, e com ela escrevo essa pequena contribuição para a publicação sobre os 50 anos do Colégio.

Quando me formei no antigo 3º Colegial, tornei-me apenas o irmão de dois alunos do Equipe. A relação continuou próxima, indo buscá-los, encontrando ex-professores pela cidade ou nas festas juninas da escola. Quando chegou o momento de fazer o estágio para a Licenciatura, o Equipe imediatamente e generosamente abriu suas portas para que eu pudesse acompanhar, agora pelo outro lado, o trabalho de minha antiga orientadora de monografia, a Eliane.

 

2

 

Foram tantas as trocas com a Eliane. Planejamentos, levantamentos de conhecimentos prévios, questionamentos sobre o próprio trabalho, problematizações. Quando fui convidado para assumir as turmas de 5ª e 6ª série, foi muita felicidade, uma honra e um tremendo desafio: uma generosidade imensa do Equipe com seu ex-aluno, que estava começando na carreira docente. Logo me tornei professor da filha da Eliane, a Helena, e passamos aqueles anos brincando que estava estabelecida uma tradição familiar: meu pai havia sido professor da Eliane, a Eliane minha professora, eu professor da Helena e no futuro a Helena seria professora de filhos meus. Quem sabe?!

Enquanto professor, fiquei no Equipe por 6 anos, de 2006 a 2011. Anos de muitos desafios, de muito aprendizado, do orgulho de ingressar numa equipe com meus ex-professores, de agora ser colega de Carlos Alberto e Antonio Carlos, de Nelsão, Luciana, Graça, Renata. De montar um grupo de professores naquele Fundamental 2 que se tornou amigo até hoje, com James, Mauro, Luana, Chris e Paulo.

Professor e ex-aluno, tive pela frente o desafio de pensar e repensar aqueles projetos que são tão simbólicos da pedagogia equipana: os campos. Que privilégio! Discutirmos os objetivos, as melhores estratégias, onde ir, o que fazer, o que deu certo, o que aprimorar para os anos seguintes. Ter sido professor no Equipe foi marcante, explicitou o que é a docência efetiva – reflexão, desafio, debate e construção com os colegas.

Santos, Paraty, São Carlos: montar novos campos, rever antigos, repensar o que está funcionando, o que podemos mudar. Receber o apoio e o encantamento dos colegas e da orientação ao propor de levar os alunos para ruínas arqueológicas, para visitarmos fortes, engenhos abandonados na Mata Atlântica, antigas máquinas de beneficiamento de café. Como a construção do conhecimento é tão bonita entre os alunos, entre os professores, entre toda a equipe. Este é o Equipe.

 

3

 

Parar depois e pensar de que forma, minha própria experiência de aluno influenciou a forma como pensei minhas práticas docentes: de que forma os muitos geoestenogramas marcaram até hoje como olho a paisagem, como converso sobre ela com meus filhos em nossas viagens, como me ajudou a pensar sobre como discutir o urbanismo de Paraty com os oitavos anos.

A generosidade equipana, materializada na figura da Luciana e da Ausonia que sempre apoiaram, incentivaram, questionaram e possibilitaram que a gente revisitasse os conteúdos, as práticas, os campos. Todo esse enorme aprendizado me marcou profundamente como professor e demonstrou como é bom trabalhar com amigos, com respeito e comprometimento de todos.

No final de 2011, deixei de dar aulas no Equipe ao me tornar professor na UFF, mas ainda por dois anos estive cotidianamente na escola, como pai de alunos.

 

4

 

A gente sabe quando uma escola é interessante, inteligente e marcante quando encontramos ex-alunos nas ruas – de São Paulo, do Rio ou de Niterói – e eles fazem questão de vir conversar sobre aquelas experiências, como elas os marcaram até hoje, como estão marcando em suas atuais graduações. Percebo como uma escola é marcante quando meus filhos, que estudaram lá um ou dois anos, falam ainda hoje com imenso carinho e orgulho da Escola e fazem questão de passar na frente dela quando vamos à São Paulo. Percebo a importância, relevância e força do Equipe quando minha companheira, que trabalhou lá por quatro anos, mantém um carinho e consideração pela Escola enorme, indicando-a sempre a quem pergunta para nós aqui no Rio, onde estudar em São Paulo. Percebemos a forma do Equipe ser, ao encontrar com os bons e velhos amigos e todos se reconhecerem essencialmente como equipanos.

O Equipe é assim. Passou por fases duras, em todo os sentidos. Passeou pela cidade, deixou suas marcas na cidade e nas pessoas. Sempre de portas abertas, generoso, questionador, problematizador, por isso está há tanto tempo como referência na Educação. Alunos, professores e toda a equipe estão em constante aprendizado, trocando, refletindo. Saudade do Equipe, saudade boa. Que venham mais 50 anos!

 

5

 

Gabriel Passetti
Ex-aluno e Ex-professor do Colégio Equipe