Este ano a escola completa 50 anos e está organizando uma série de atividades especiais para comemorar. Uma delas foi uma conversa com professores ex-alunos para os atuais alunos do Ensino Fundamental II. Segue o depoimento da Ana Luiza Guarnieri, professora de Artes. As fotos são da Rua Capri, atual terminal Pinheiros de ônibus, metrô e trem e foram tiradas por ela mesma num trabalho de Artes.
Caros equipanos,
Para pensar esta fala, tive eu que abrir as minhas gavetas de guardados e agora compartilho algumas reflexões com vocês.
Então vamos lá! No ano de 97 entrei no Equipe para fazer a 7ª série, na época tinha 12 anos, a escola ainda era na Rua Capri em Pinheiros e eu não fazia ideia que reflexos essa simples mudança de escola traria para a minha vida; mas, bem, trouxe algumas.
Logo de início, pude perceber que o Equipe era uma escola bem diferente da minha antiga, não só pelo ambiente, os tipos de trabalhos e os professores, mas principalmente pelas pessoas. Eu, que sempre me senti diferente, aqui, estranhamente, já não me sentia tão diferente assim. Com o tempo, pude perceber que nasceu em mim um certo sentido de pertencimento, de fazer parte de algo, sei lá exatamente do que, mas acho que era de um grupo, um coletivo.
Por meio de alguns trabalhos, aqueles mesmos que na época eu não dava muita importância, ficava com preguiça de fazer e os fazia sempre correndo e em cima do prazo para entregar, neles fui reconhecendo o quanto de importância esta escola dava à voz do aluno.
Na 7ª série, o professor de Artes, João, nos levou para fora da escola para fotografarmos as ruazinhas do bairro. Na 8ª série, a professora Eliane, essa mesma de História, propôs que nós entrevistássemos a nossa avó. No 1º colegial, o professor Carlos Alberto, de Geografia, nos fez assistir a um filme russo e depois pediu que escrevêssemos a história de nossas vidas entremeando os eventos pessoais de cada um aos fatos históricos importantes no Brasil e no mundo. Trabalhos bem diferentes, alguns quase estranhos. Mas que com o tempo me fizeram refletir sobre a minha própria importância, na presença de cada indivíduo por trás de um discurso, e pensar que somos seres políticos e que nossas ações impactam em nós mesmos e em tudo o que nos cerca.
Alguns professores, aqueles que também foram meus, hoje cruzam comigo na sala dos professores e dizem: “Nossa! Mas como você melhorou, antigamente você era tão mal-humorada, tão marrenta”. Pois é, professora, dizem que a vida dá voltas, e algumas delas de 360°, me trazendo para o mesmo lugar de onde saí anos atrás. Aqui nesta escola encontrei pares, fiz amigos para a vida toda, e se não bastasse, ainda estudei com alguém que no futuro virou namorado, marido e pai dos meus filhos.
Nesses meus 20 anos de caminhada junto ao Equipe, ora como aluna, ora como professora, percebi o quanto de identidade esta escola deixa em cada um de nós que passamos por aqui, mas hoje nem de longe me arriscaria em traduzir essas marcas em palavras.
Ao Equipe tenho muito o que agradecer. Meus parabéns! E que venham os próximos 50 anos!
Ana Luiza Guarnieri