O Colégio Equipe tem, entre seus objetivos, a intenção de que seus alunos desenvolvam uma consciência crítica da realidade, de forma que se posicionem frente a ela e atuem como cidadãos. Nesse sentido, nosso currículo procura articular o saber sistematizado com questões e problemas vividos na atualidade. Assim nossos alunos aprendem que estudar é buscar respostas a problemas com método, que o conhecimento não é um conjunto de verdades prontas e acabadas, e também aprendem a relacionar conceitos e conteúdos escolares com a realidade em que estão inseridos.
Quando fomos procurados pelo grupo Pé na Escola, formado por advogados que estudam metodologia de ensino em Direito, avaliamos que o tema da crise política e das propostas de reformas políticas em discussão no Congresso Nacional permitiria relacionar conteúdos de História do Brasil que a 2ª e a 3ª série estavam estudando com o atual momento vivido pelo Brasil – assunto que tem trazido muitas indagações para alunos e educadores.
Na 2a série, a reforma foi articulada ao estudo da organização do Estado Nacional, suas instituições políticas e legislação após a independência do Brasil. Na 3a série, o vínculo deu-se por meio do advento da República, o princípio de federalismo e as mudanças na legislação ocorridas ao longo do século XX, temas integrantes do curso de História do Brasil, ministrado pela professora Eliane Yambanis. E foi nesse contexto que ocorreu a atividade descrita a seguir.
Coordenação do Ensino Médio do Colégio Equipe
O que é política? O que é reforma política? Quem representa e quem é representado no sistema eleitoral brasileiro? Os jovens brasileiros se sentem representados?
A partir dessas perguntas, o Pé na Escola e o Núcleo de Metodologia de Ensino da FGV Direito SP promoveram uma atividade sobre reforma política com os alunos do Ensino Médio do Colégio Equipe, contando com a colaboração da professora de História do Brasil Eliane Yambanis e a coordenação do curso.
Os dois grupos trabalham sob a premissa de que o aluno é o centro da aprendizagem e pode ser protagonista de seu conhecimento. Isso significa que os professores procuram aproveitar ao máximo o conhecimento individual e subjetivo dos estudantes, bem como a vivência e a experiência de vida de cada um deles, para a construção coletiva do objeto de estudo.
No colégio, a atividade teve por objetivo estimular uma reflexão sobre as instituições políticas e seu funcionamento e despertar a curiosidade dos estudantes para temas da política.
Foram três encontros em que os alunos debateram os principais temas colocados em destaque sobre as mudanças de nosso sistema político. No primeiro deles, os alunos da 2a e da 3a série se dividiram em grupos para discutir financiamento de campanha, sistema eleitoral, partidos políticos e mandato. Ao colocar no centro da roda temas tão recorrentes nas manchetes de jornais como voto distrital, financiamento privado de campanha ou representação dos partidos políticos, os adolescentes foram convidados a se posicionar e emitir suas opiniões sobre questões que afetam a todos. Cada grupo foi mediado por um tutor, que agregava novos elementos fáticos, jurídicos ou políticos ao debate e inseria novas questões. Após conversarem sobre as opções propostas, abordando os prós e contras de cada uma das medidas que estão em pauta no Congresso Nacional, os alunos eram estimulados a apontar quais seriam as melhores alternativas dentro de cada um dos grandes temas.
No segundo encontro, cada grupo apresentou vantagens e desvantagens de cada alternativa para toda a classe, de modo que todos pudessem se apoderar do debate político. Em geral, os estudantes mostraram que queriam participar da política, mas não da forma que ela está posta atualmente. Um discurso recorrente em todas as turmas foi a respeito de quanto eles não se sentiam representados na política e não estavam dispostos a se aproximar dos partidos tal como atuam hoje.
Esse foi o sentimento carregado por todos até o terceiro encontro, realizado na quadra poliesportiva com os alunos de todo o Ensino Médio, para entender qual transformação política os jovens querem ver hoje no Brasil. Novamente a questão de que a política não se aproxima dos jovens e de seus interesses foi colocada em pauta como uma das explicações para o distanciamento da juventude hoje existente.
Contudo, no decorrer da discussão, os alunos foram percebendo que a política não é apenas o espaço institucional ocupado pelos partidos. Seu espectro é amplo, apresenta diferentes cores e está presente em diferentes lugares, como nessa escola, nessa quadra, nesse momento. Foi então que o Grêmio Estudantil do Colégio entrou em debate. Um debate interessantíssimo sobre sua função, ocupação e representatividade. Estudantes, tutores e professores perceberam juntos que muitas vezes as pessoas não participam sequer dos espaços à sua volta, em que podem expressar diretamente suas ideias, interesses e vontades. A conclusão foi que esses espaços, como o grêmio, precisam ser ocupados, pois isso é fazer Política (com “P” maiúsculo) em seu aspecto mais amplo e democrático. E desse modo todos ganham mais maturidade e compreensão sobre a política institucional. Viver e construir o micro, para melhor entender e influenciar o macro.
Ao fim do encontro e das atividades, o sentimento que preponderou foi o de que, tão importante quanto a reforma da política institucional para uma melhor representatividade no processo político-eleitoral, é a reforma do comportamento de cada um frente ao papel que desempenhamos dentro do regime democrático. A partir do momento em que as pessoas passam a se interessar por compreender a estrutura política do Estado brasileiro e a participar de diferentes espaços em que manifestam os seus interesses, elas exercem a cidadania de maneira ativa, abrindo caminho para as mudanças que querem concretizar.
Uma das alunas disse ao final do encontro que o envolvimento dos jovens na política seria facilitado se as escolas propiciassem mais discussões sobre temas que integram a agenda nacional, bem como a formação sobre o funcionamento do Estado e suas instituições. Por isso, a iniciativa do Colégio Equipe e o esforço da professora Eliane de trazer esses assuntos ao contato dos alunos são louváveis. Eles justificam e fortalecem a intenção do Pé na Escola e do Núcleo de Metodologia de Ensino de aproximar a universidade das escolas para estimular a reflexão e o debate sobre temas de Direito e Cidadania.
Grupo Pé na Escola e Núcleo de Metodologia de Ensino da FGV Direito SP