O papel das histórias de vida na construção da História

Disciplina Projetos - 9° Ano

 

Julieta Jerusalinsky

Entrevistado(a)

 

Durante a entrevista, Julieta Jerusalinsky, com 48 anos conta sua história de vida de imigrante.

Nascida em San Fernando, Argentina Julieta vivia com seus pais: Zulema Angeles Garcia Yañez e Alfredo Jerusalinsky (ambos argentinos) e, a partir de seus 5 anos, com seu irmão caçula: Leandro Jerusalinsky.

Na madrugada do dia 24 de março de 1976, a junta militar tomou o poder na Argentina. Logo nas primeiras horas após o golpe, a Junta Militar tomou os prédios do governo e o Congresso Nacional e pelos principais meios de comunicação de massa informaram que uma Junta de Comandantes das três armadas havia assumido o poder político em nome do autodenominado Processo de Reorganização Nacional.

Alfredo e Zulema eram militantes e tinham profissões que incentivaram o pensar.

Em 1978, após terem muitos amigos, colegas e conhecidos desaparecidos ou mortos, presos, sequestrados e fuzilados ,decidiram ir para o Brasil, já que seu país natal apresentava alto risco. A decisão foi feita porque era um país limítrofe e foram em 4 pessoas, Julieta, Leandro, Zulema e Alfredo .

Ao chegarem ao Brasil, foram bem recebidos por um colega que exercia a mesma profissão de Alfredo, psicanalista, mas mesmo com ajuda profissional as coisas não foram fáceis, pois havia que reconstruir seus trabalhos do zero.

Julieta era apenas uma criança quando tudo ocorreu e, por isso, afirma lembrar de sua infância com carinho, mas também com muita dor, já que não foi um momento fácil.

Relata lembrar-se dos momentos em que tiveram que queimar livros e discos em sua churrasqueira, pois eram proibidos, lembra das rondas e do sentimento de tensão, pois se sabia que os militares tinham o direito de invasão domiciliar e que tinham poder sobre os habitantes. Conta de um sonho recorrente no qual sua casa era invadida e ela se escondia com seu irmãozinho na casinha do gás, esperando por alguém buscá-los. Mais tarde, sua mãe lhe contou que se a casa fora invadida ela tinha ordens para se esconder lá com seu irmão, pois havia uma passagem para a casa do vizinho, onde iriam pedir por ajuda caso a invasão ocorresse. Conta também que, se isso ocorresse, com as tecnologias atuais provavelmente não teriam escapado e que seu pai provavelmente seria um preso político.

A chegada ao Brasil foi difícil, era um país novo, uma cultura nova e uma língua nova, mas Julieta conseguiu se adaptar bem, melhor do que seus pais. Muitas vezes se via traduzindo coisas pra seus pais, pois havia aprendido a língua portuguesa mais rápido.

Quando a ditadura da Argentina acabou, a família cogitou voltar, mas Julieta não quis, pois não queria passar por uma adaptação novamente.

Julieta vive no Brasil até hoje, se naturalizou brasileira quando estava grávida de seu primeiro filho, mas a cultura da Argentina ainda permanece em seu dia a dia, se comunica através do espanhol com seus pais e ainda há muitos traços da cultura como, por exemplo, na culinária.

 

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