O papel das histórias de vida na construção da História

Disciplina Projetos - 9° Ano

 

João Carlos Guedes da Fonseca

Entrevistado(a)

 

João Carlos Guedes da Fonseca nasceu no Rio de Janeiro em 1974, e vem de uma família de imigrantes judeus vindos da Polônia e da Rússia.

Seu avô era um russo, chamado Jacob, que fez parte de um grande fluxo de imigrantes russos que aportaram em Recife aproximadamente em 1905. Mas em seu depoimento, ele opta por contar a história de sua avó, Marisheler Anders, e de seus bisavós, que vieram de Varsóvia, na Polônia, para o Brasil, em 1920.

Seu bisavô era um homem de classe média baixa, e sua bisavó vinha de uma família de judeus ortodoxos. Mudaram-se para o Brasil com sua filha Marisheler, que tinha apenas 10 anos, em uma época em que um forte fluxo de imigrantes poloneses vinha para cá e para os Estados Unidos, devido a uma crise econômica pela qual passava a Europa. Optaram por vir para o Brasil, pois havia rumores de que aqui era uma terra de oportunidades, e eles tinham esperança de fazer riqueza. Chegando aqui, alojaram-se com outros imigrantes no bairro do Bom Retiro, onde seu bisavô abriu uma malharia, e sua avó passou a trabalhar com joias (dois trabalhos comuns para imigrantes judeus na epóca).

O resto da família de seus bisavós ficou na Polônia, e acabaram morrendo no campo de concentração de Auschwitz em decorrência do avanço nazista na Alemanha, que começou no início da década de 1930. João lembra que sua avó contava que seus pais tinham um sentimento dúbio em relação a terem migrado. Por um lado, era um alívio estar no Brasil e não na Polônia, mas por outro, ressentiam-se muito por não estarem com sua família.

Segundo ele, a imigração lhe parece um sentimento difícil de decodificar, já que o imigrante tem muito provavelmente a memória do lugar onde nasceu, mas já não faz parte deste. No caso de sua avó, a memória que ela tinha era de quando era muito nova, e isso é ainda mais impactante, já que a memória da infância é tão diferente da memória da vida adulta.

A casa de sua avó era para ele e os primos uma espécie de centro familiar, e as comidas que ela preparava traziam influência da culinária portuguesa. João se lembra da primeira vez em que entrou, já depois de adulto, em um restaurante de culinária judaica, e de como o cheiro que sentiu era o cheiro de sua avó. Atualmente, ele e os filhos estão prestes a tirar seu passaporte polonês, e, apesar de ter muita curiosidade em conhecer a Polônia, acha muito difícil a ideia de se tornar imigrante, porque, na experiência dele, a imigração só acontece se o desejo de uma vida melhor não pode acontecer no seu lugar de origem.

 

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