Nos dias 28 e 29 de abril, os alunos das 2ªs e 3ªs séries do Ensino Médio, interessados em serem monitores dos trabalhos de campo de 4º ano do Ensino Fundamental I até 2ª série do Médio, participaram de um curso de formação. Quarenta alunos estiveram presentes. Foram oito horas em duas tardes discutindo a estratégia de projetos utilizada pela escola, sua articulação com nossa concepção de ensino e diretrizes de série, assim como as principais características de todos os projetos de cada ciclo. Além disso, os alunos presentes refletiram sobre seus próprios aprendizados nos trabalhos que vivenciaram e sobre o papel do monitor.
Trabalhos em campo são parte de projetos realizados no Colégio Equipe há 30 anos, sendo aperfeiçoados ao longo do tempo. A partir da concepção crítica de educação e articulados à metodologia problematizadora de ensino, essa estratégia didática tem como um dos principais objetivos criar condições para que os alunos problematizem a realidade em que estão inseridos e consigam relacionar conceitos e referenciais teóricos das diversas disciplinas envolvidas, em trabalhos interdisciplinares.
Monitores da 3ª série se preparando para a plenária
Em síntese, podemos dizer que projetos são estudos que partem de uma questão norteadora proposta a partir do currículo das disciplinas e das diretrizes da série, envolvem um trabalho de pesquisa de diversas fontes em campo, discussões coletivas dos dados, sistematização e a elaboração de um produto que responda à questão norteadora e aponte para novas questões. As atividades de campo propostas variam de acordo com as características de cada lugar a ser estudado e dos problemas elegidos para o estudo, mas entrevistas e observação de paisagem estão sempre presentes. Em todos os trabalhos em que se passa uma ou duas noites fora, os alunos participam de plenárias: momentos de sistematizar os dados do dia, de discutir e refletir sobre eles e também de trocar impressões pessoais. São momentos de compartilhar o que se aprendeu com todos os colegas. Nessa atividade, os monitores são fundamentais, pois são eles que conduzem as conversas em pequenos grupos e que ajudam a selecionar questões para serem debatidas com todos da turma.
Todos os anos, os educadores se dedicam a replanejar esses trabalhos, visando ao aprimoramento didático e à adequação das atividades às características de cada turma que vai a campo. Certamente, os educadores sabem da importância curricular que todos eles têm e das aprendizagens significativas que podem promover. Mas quando são os próprios alunos a escreverem sobre seus aprendizados e vivências, os educadores dão novo significado a esse fazer.
Discussão coletiva na plenária
Os alunos participantes do Curso de Formação de Monitores 2016, ao responderem à questão sobre quais aprendizados e vivências os projetos na escola lhes proporcionaram, destacam a importância do trabalho em grupo:
“Eu acho que minhas vivências mais marcantes nos trabalhos de campo foram trabalhar em grupo, mesmo com todas as diferenças, olhar o mundo e as pessoas com outros olhos, me questionar mais e perder preconceitos que muitas vezes nem sabia que tinha.” (Luiza Gonçalves Izolan, 2ª série)
“(…) participar de experiências grupais que nunca tinha experimentado antes (com aprofundamento intelectual e filosófico) com pessoas com quem nunca tinha tido uma vivência significativa.” (Letícia Franklin Vieira, 3ª série)
“Possibilitam uma vivência diferente com nossos colegas, não apenas com os que estão no seu grupo, mas também com a sala inteira, monitores e professores.” (Dora Barcellos Mendes, 3ª série)
Entrevista com estudantes do SENAI
Também apontam que os conteúdos de estudo permitem fazer leituras da realidade e deles mesmos:
“Sair do mundinho bolha e ver a realidade de pertinho (…).” (Caroline Karniol Lambert, 2ª série)
“Uma das viagens com mais aprendizados foi a da 2ª série do Ensino Médio, na qual tivemos que refletir sobre nossa situação no meio social, tal como nossa motivação e nosso lugar e papel na sociedade. Tanto no trabalho da 1ª série quanto no da 2ª, os aprendizados se voltam para a sua compreensão dos outros e pessoal. Na primeira, aprendemos e entendemos como ver o outro em relação a nós; e na 2ª, o contrário.” (Helena Bellan de Camargo, 3ª série)
“Por que os trabalhos do Ensino Médio foram tão chocantes? Por terem aberto a percepção sobre nós, quem é o outro e onde nos encontramos.” (Sophia de Silva Bussamra Franco, 3ª série)
“(…) a consciência de que a revolução começa em cada indivíduo e a de que a crítica é muito mais do que falar mal de algo e de alguém, mas analisar o que há por trás disso (…).” (Débora Landshorff Storch, 3ª série)
“Todos os projetos interferem muito na sua vida pessoal. Com o projeto em Paraty, eu passei a perceber as cidades históricas e as cidades turísticas de outro jeito (…).” (Sofia Almeida de Barros, 2ª série)
“Nos trabalhos de campo, eu tive uma nova perspectiva para observar e vivenciar as coisas. (…) Eu não tinha toda essa ideia de problematização de uma pergunta que não pode ser respondida e sim refletida; eu aprendi a problematizar.” (Marina Munhoz Xavier, 3ª série)
“O projeto na cidade de São Paulo me impressionou muito, principalmente quando ‘visitamos’ áreas da cidade que nunca pensei que passaria com a escola, lugares em que eu passaria batido no dia a dia, mas que agora vejo com outro olhar.” (Isabela Taranto Moreira de Mello, 3ª série)
“Penso que o campo nos bota em situações extraordinárias que ajudam a desenvolver habilidades, de uma maneira que seria impossível dentro de sala de aula.” (Thales, 2ª série)
Além disso, nos depoimentos, os alunos destacaram atividades mais significativas realizadas em campo:
“Sempre olhar a paisagem.” (Caroline Karniol Lambert, 2ª série)
“A partir do 7º ano, toda entrevista e contato me forçaram a sair do local de conforto, inclusive comigo mesma.” (Helena Bellan de Camargo, 3ª série)
“As discussões pré-plenárias e as plenárias em si foram as situações mais marcantes, já que havia muita troca entre os alunos; podíamos observar vários pontos de vista que se formam sobre o mesmo objeto de estudo.” (Dora Barcellos Mendes, 3ª série)
“Mas, apesar de todos os bons momentos, os melhores são quando andamos pelas cidades, nas ruas, isso realmente me marca, eu passo a me sentir parte da paisagem que estou estudando.” (Isabela Taranto Moreira de Mello, 3ª série)
“(…) foi o momento em que realizamos a entrevista com os cortadores de cana perto de Ribeirão Preto. Nesse dia, percebi como deixava coisas do meu cotidiano passarem.” (Martim Braga Pessoa, 2ª série)
“Em todos os trabalhos de campo, as plenárias são muito importantes. As questões sempre são muito interessantes, o momento de respondê-las, discuti-las, é, para mim, o momento de maior aprendizado, é quando entendemos o porquê de todas as atividades do dia. Além disso, gosto muito também por ser um momento de compartilhar e de trocar conhecimentos.” (Yasmin Buendia Paiva Campo Morial, 3ª série)
Portanto, estão aí as respostas sobre os motivos de adotarmos essa estratégia, que acaba sendo uma das formas de estruturar nosso currículo. Porque com ela nossos alunos aprendem a gostar de aprender, aprendem sobre o mundo e sobre si mesmos, aprendem a compartilhar o que aprenderam com colegas e com outros interlocutores, e aprendem que o conhecimento não é neutro, nem está pronto e acabado, mas é construído por eles. E é por isso que o Colégio Equipe adota a estratégia de projetos no seu currículo.
Luciana Fevorini
Diretora Escolar