É comum em epidemias, surtos epidêmicos ou pequena concentração de casos de doenças, a escola ser cobrada para divulgar informações e orientar alunos e pais sobre como devem se prevenir das doenças e como devem agir se já foram acometidos por elas. Muitas vezes há a solicitação de que as características dessas doenças, suas formas de transmissão e tratamento sejam transformados em conteúdos escolares. Mas será que prevenir e orientar sobre doenças é papel da escola? E se for, como deve ser essa orientação? Cabe a ela dar instruções e orientações mais precisas sobre possíveis tratamentos?
A partir dessas questões, o Equipe entrevistou Ausonia Donato, nossa Diretora Pedagógica, que, além da sua formação em Pedagogia, é também Doutora em Saúde Pública, atuando nas áreas de Saúde e Educação dentro da Secretaria de Saúde do Estado há 45 anos.
Ausonia Donato na apresentação de monografia do Colégio Equipe
Equipe: Qual é o papel da escola na prevenção e na difusão de informação em casos de surtos e epidemias de doenças?
Ausonia: No caso dessas epidemias, surtos epidêmicos, pandemia ou pequena concentração de casos que já seja motivo para a comunidade e a saúde pública se preocuparem, a escola não pode se omitir. Mas qual é o papel da escola, então? É orientar! É o que nós fazemos, somos orientadores. A escola é responsável por adotar medidas coletivas de prevenção. Tem quatro níveis de trabalho com a saúde: a prevenção, a promoção, a cura e a reabilitação. Claro que em cura nós não podemos entrar e tampouco em reabilitação. Mas nós podemos atuar em dois níveis: prevenção e promoção! Partindo do princípio de que assim poderemos evitar o contágio. A escola deve se informar sobre como evitar as doenças e transmitir essas informações para a sua comunidade de alunos, pais e educadores. Cabe à escola, sempre que possível, se articular com os setores da saúde pública em seus territórios nas ações de prevenção.
Equipe: Cabe à escola fornecer informações mais técnicas?
Ausonia: Não é papel da escola prescrever! Cabe à escola orientar; a prescrição é da saúde. Não se deve misturar os papéis. À escola cabe dar orientações coletivas ou individuais. Muitas vezes há diversidade de informações entre os próprios profissionais da saúde; entre eles e o serviço público; às vezes, entre os diversos serviços públicos também há divergência de informação! Fora as diferentes abordagens da Medicina, há a medicina alopata, a homeopata, entre outras que também divergem na forma de entender e tratar uma doença. E veja, o objeto deles é a saúde, o nosso é a educação! Portanto, mais uma vez, cabe a nós informar e orientar sobre pequenos cuidados. Mas nunca prescrever!
Equipe: A escola em situações como esta deve incluir as doenças em questão como conteúdos curriculares?
Ausonia: Acho que não necessariamente, isso vai depender muito de cada escola. Se trabalho em uma escola pública de periferia onde a única fonte de informação é a escola, eu faria isso, faria inclusive cartazes! Porque a comunidade não tem outras fontes! Mas conforme o contexto em que a escola está inserida, ela não é a única fonte de informação e atividades como essa não são tão necessárias. Claro que estou considerando que o tema da saúde é um tema transversal e que faz parte do currículo de diversas disciplinas escolares. Aqui no Equipe, por exemplo, trabalhamos políticas de saúde, o processo de saúde e doença, o conceito de alimentação saudável. Entretanto, em situações como esta, cabe à escola fazer atividades fora do horário para esclarecimentos com especialistas, para nós nos atualizarmos, nos esclarecermos. Mas com caráter extracurricular. Agora, muitas vezes, os próprios alunos trazem curiosidades sobre as doenças, em função do que ouvem na mídia; nesses casos, cabe ao professor avaliar se deve e como deve trabalhar esses conteúdos. Cada educador também deve ter essa abertura e disponibilidade.